Artigo

Andar - cair - levantar - prosseguir

Por Evoti Leal
Barbeiro e escritor

Uma caminhada, no sentido literal da palavra, pressupõe andar, isto é, fazer um movimento de ir trocando os pés sobre uma superfície de base, o chão, um passo após outro, ganhando terreno e deixando rastros, rumo a um lugar que se encontra mais adiante.

Anatomicamente, nossos pés foram projetados para andar para a frente. A posição em que se encontram os olhos no rosto, também indica que "é para a frente que se olha e que se anda". Pode-se dizer que o corpo todo foi desenhado pela Mãe Natureza com tal objetivo, muito embora possam ser feitos movimentos noutras direções, ocasionalmente, em situações variadas.

Caminhar, portanto, é mover-se, seguindo o caminho que se faça necessário para se atingir uma meta, um ponto pré-definido, ou mesmo, indefinido.

Nem sempre, porém, o chão em que se pisa é parelho o suficiente para que não haja nenhum tropeço e para que do tropeço não resulte uma queda. Às vezes, uma pedra, um desnível, um buraco, um obstáculo qualquer, pode estar bem no lugar onde a gente vai por um dos pés e a caminhada é bruscamente interrompida pelo desequilíbrio e consequente arrojo do corpo ao chão. Imediatamente, alguma parte da nossa anatomia se ressente com o atrito sofrido. O joelho, o pé, o braço, o pulso, a cabeça, a coluna, algum membro importante do corpo sai dolorosamente machucado.

No sentido figurado, a nossa caminhada significa o somatório das nossas ações e movimentos intelectuais, no espaço e no tempo, na busca incessante por tudo aquilo que nos realize como indivíduos.

Costuma-se definir a vida como uma caminhada evolutiva. A gente está sempre evoluindo, crescendo, adicionando experiências e conhecimentos. Isso é caminhar, metaforicamente falando.

As quedas são os reveses que sofremos, aqui, acolá, de uma forma ou de outra. Em cada queda, um impacto, que nos desalinha, física ou emocionalmente. Corpo machucado, alma em sofrimento. Alma ferida, corpo em desarmonia.
Mas a vida segue e temos que seguir andando. Uma queda é uma lição. Caiu? Levanta e prossegue.

Aliás, cair é tão natural, que, toda vez que caíamos, na nossa infância, os nossos sábios avós e pais diziam: "levanta, pra cair de novo".

Muitas vezes, a gente se levanta e olha em volta, envergonhado pelo fato de haver-se deixado cair, feito boneco "João Bobo". Pior é que não dá pra disfarçar a dor do osso trincado e do nervo repuxado, ou os hematomas, despertando a curiosidade alheia:

- "Que houve???"

E a única resposta possível é esta:

- "Caí"!

Antes de tudo, a gente precisa perdoar-se. Com o tempo, tudo passa; a dor passa; a vergonha também e até os ressentimentos. Viver é isso: andar, cair, levantar, prosseguir, cair novamente, e outras vezes mais, até o final da jornada!

Quer saber de que tipo de queda estou falando, fora o sentido literal da palavra? Falo dos tombos que levamos, quando alguém nos engana, nos ludibria, nos aplica um golpe, nos trai, nos rouba, nos humilha, nos põe para escanteio; noutras palavras, nos passa uma rasteira e nos derruba.

É aí que precisamos de muita coragem e da solidariedade de amigos para nos recompormos, erguermos a cabeça, sacudirmos a poeira e darmos a volta por cima, como sugere aquele velho e famoso samba.

Sejamos fortes, pois ainda podemos sofrer algumas quedas até alcançarmos a linha de chegada. E, segundo o professor e escritor Dr. Haroldo Dutra Dias, "não é sobre o que nos acontece, mas sobre o que fazemos com o que nos acontece". Este é o xis da questão.

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